“… … “A Avenida de Roma, que era nova e muito bonita, tinha uma mancha escura. As pessoas que se viam nas ruas vestiam-se de preto, de forma pesada, muito fechada. As mulheres vestiam-se de escuro, só as estrangeiras usavam roupa garrida.” Mesmo no tempo de Marcello Caetano, do qual nunca acreditou que protagonizaria um regime mais aberto. “Em casa do meu pai, jovem, assistia aos discursos da Emissora Nacional do Salazar, do Marcello Caetano. Ele tinha sido comissário nacional da Mocidade Portuguesa, diziam que podia ser a primavera, nunca acreditei nisso.””
Tenho 76 anos de idade, comecei a trabalhar aos 14 anos, em 1960, na Baixa lisboeta e sinceramente, nunca dei por “As pessoas que se viam nas ruas vestiam-se de preto, de forma pesada“…
Diariamente, cruzava-me com milhares de pessoas que se vestiam normalmente, o preto, na época, era usado como forma de luto pelo falecimento de um parente chegado. Eu usei um “fumo” (como se designava uma tira de flanela preta) numa das mangas do casaco e na lapela, em sinal de luto, além da gravata preta.
No Verão, as mulheres vestiam cores normais, por isso, não sei onde esta senhora viu “As pessoas que se viam nas ruas vestiam-se de preto, de forma pesada“…
A Avenida de Roma era, na época, uma avenida “chic” onde morava a “gente fina”, endinheirada, nunca passei por lá, diariamente a minha vida era desenvolvida nos Restauradores e em todas as ruas da Baixa lisboeta.
Ia tomar o pequeno almoço à Solmar, na Rua das Portas de Santo Antão, à saída do emprego, íamos beber um “pirata” nos Restauradores, ao lado do cinema Éden-Teatro que começou a funcionar como cinema em 1938 e como tinha duas horas para almoçar, o resto do tempo passava a percorrer as Ruas do Ouro, Augusta, Fanqueiros, Chiado, a ver as montras a fim de passar o tempo.
Antes de tomar o eléctrico ou o autocarro para casa, na Praça da Figueira, ou ia à Pastelaria Suiça ou à Nacional, beber uma bica. Comprei muitas camisas Tripple Marfel e camisas TV na Camisaria Moderna no Rossio, gravatas n’ A Bretanha da Rua do Ouro, fatos no Loureço & Santos dos Restauradores.
As camisas TV eram de nylon, tive-as nas cores cinzento claro, creme e branca e eram muito “frescas” no Verão, um produto da Fábrica 1921 de Simões & Cª., Lda..
Os sapatos, regra geral, eram adquiridos na Sapataria Charles, na Rua do Carmo porque tinham a vantagem de oferecerem “meios” números, ou seja, 38, 38½, 39, 39½, etc.. Algumas vezes, eu e os meus colegas de profissão, sentávamo-nos na esplanada do Café Nicola no Rossio, normalmente na época de Verão ou íamos até ao Café Brasileira do Chiado, na Rua Garret.
Bons tempos, embora prevalecesse na época a ditadura fascista de António de Oliveira Salazar. Lembro-me que tinha de comprar uma Licença de Isqueiro no Governo Civil (era fumador na época) para o usar na via pública, senão era autuado pelos fiscais das finanças.
Leiam o artigo AQUI, quem estiver interessado.
Francisco Gomes
21.03.2022

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