OPINIÃO
Quarenta e poucos dias após o início de um impensável conflito militar em solo europeu, há uma nova nuvem negra a pairar sobre o Velho Continente.
Tem o seu epicentro em Paris, mas pode ter efeitos devastadores em todas as latitudes NATO, traduzindo-se numa tortuosa vitória de Putin e de Moscovo. As eleições presidenciais francesas deste domingo, que antes da guerra pareciam um passeio no parque para Emmanuel Macron, transformaram-se numa séria ameaça não apenas à estabilidade europeia, mas à própria solidez da Aliança Atlântica, face à perigosa aproximação nas sondagens de Marine Le Pen ao presidente-candidato.
De forma algo surpreendente, a extremista que concorre ao Palácio do Eliseu pela terceira vez – e é uma entusiástica apoiante do regime russo, embora mais moderada agora, por conveniência eleitoral – tem conseguido manter a sua popularidade em alta, apesar da toxicidade provocada por qualquer laivo de simpatia para com o todo-poderoso autocrata. De resto, as sondagens sugerem que, numa mais do que provável segunda volta, e caso o eleitorado da Esquerda fique em casa (o que muitos temem que possa acontecer), Le Pen pode ter sérias hipóteses de triunfar.
Sobretudo porque tem usado a sua retórica populista e inflamada junto dos franceses que estão a sofrer economicamente com a invasão da Ucrânia, deixando para um segundo plano medidas mais radicais como as restrições aos imigrantes e a proibição do uso, pelas mulheres, do véu islâmico em solo francês.
Uma vitória de Le Pen poderia significar uma crise na Europa ainda mais profunda do que a causada pelo Brexit e, no actual contexto de alianças militares, seria um abanão estrondoso na coligação pró-ucraniana que vai de Varsóvia a Washington. Putin pode invadir Paris sem disparar um único míssil. Neste domingo, é o ideal europeu que vai a eleições, não apenas a França.
*Director-adjunto
Jornal de Notícias
Pedro Ivo Carvalho
09.04.2022
Pelas vítimas do genocídio praticado
pela União Soviética na Ucrânia