CIÊNCIA/CIVILIZAÇÕES
Se os seres humanos não morrerem num Apocalipse climática ou com o impacto de um asteroide nos próximos 10 mil anos, é possível que evoluamos para uma espécie mais avançada do que a que somos actualmente?
É difícil prever o futuro, e o mundo provavelmente vai mudar de formas inimagináveis, segundo o The Conversation. Mas podemos fazer previsões informadas.
É provável que vivamos mais tempo e que nos tornemos mais altos e mais magros. Provavelmente seremos menos agressivos e mais agradáveis, mas teremos cérebros mais pequenos.
A melhor forma de prever o futuro é olhar para o passado, supondo que essas tendências continuarão a avançar, o que sugere algumas ideias surpreendentes sobre o nosso futuro.
O fim da selecção natural
Alguns cientistas têm defendido que a ascensão da civilização pôs fim à selecção natural. É verdade que as características selectivas que dominaram no passado — predadores, fome, peste, guerra — desapareceram na sua maioria.
A fome terminou, em grande parte, com a agricultura de alto rendimento, fertilizantes, e planeamento familiar e os predadores estão em perigo de extinção ou extintos.
As pragas que mataram milhões foram “domesticadas” com vacinas, antibióticos, ou água limpa. Mas a evolução não parou, tem apenas outros impulsos.
Ainda precisamos de encontrar parceiros e criar filhos, pelo que a selecção sexual desempenha agora um papel maior na nossa evolução.
Estamos também a enfrentar novas pressões selectivas, tais como a redução da mortalidade. Estamos a tornar-nos uma espécie de macaco domesticado — um macaco domesticado por nós próprios.
Viveremos mais tempo
A evolução dos seres humanos caminha em direcção a uma esperança média de vida cada vez maior. Os ciclos de vida evoluem em resposta às taxas de mortalidade.
Quando as taxas de mortalidade são elevadas, os animais reproduzem-se mais cedo, ou podem não se reproduzir de todo. Mas, quando as taxas de mortalidade são baixas, acontece o oposto. Assim, os animais com poucos predadores evoluem e vivem mais tempo.
Nos últimos dois séculos, uma melhor nutrição, medicina e higiene reduziram a mortalidade jovem a menos de um por cento na maioria das nações desenvolvidas.
A esperança de vida subiu para 70 anos em todo o mundo, e 80 nos países mais desenvolvidos — devido à melhoria da saúde, não à evolução. Mas esta tendência mas preparou o terreno para a evolução, no sentido de prolongar a nossa esperança de vida.
Os nossos genes podem evoluir até atingir o limiar da esperança média de vida aos 100 anos, ou até mais.

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Há 300 mil anos, havia 9 espécies humanas; agora somos só nós. Poderá surgir uma nova espécie humana?
Mais altos, menos músculos
Os animais evoluem, normalmente, em tamanho, crescendo cada vez mais ao longo do tempo. É uma tendência observada nos tiranossauros, baleias, cavalos e primatas, entre os quais os hominídeos.
Os primeiros hominídeos eram pequenos, tinham cerca de 120 centímetros a 150 centímetros de altura. Já o Homo Erectus, o Neandertais e o Homo Sapiens aumentaram em tamanho.
Continuámos a aumentar em altura, em parte impulsionados por uma melhor nutrição, mas os genes também parecem estar a evoluir.
O porquê de termos crescido não é claro. Em parte, o crescimento leva tempo, pelo que vidas mais longas significam mais tempo para crescer.
Mas as fêmeas humanas também preferem machos altos. Assim, tanto a mortalidade mais baixa como as preferências sexuais provavelmente farão com que os humanos fiquem mais altos.
Os seres humanos também reduziram os músculos, em comparação com outros macacos. À medida que a força física se torna menos necessária, os nossos músculos vão continuar a encolher.
Os nossos maxilares e dentes também ficarão mais pequenos, e provavelmente perderemos os nossos dentes do siso, no futuro.
Estranhas e novas possibilidades
Em alguns aspectos, o futuro pode ser radicalmente diferente do passado. A própria evolução tem evoluído.
Uma das possibilidades mais extremas é a evolução dirigida, onde controlamos activamente a evolução da nossa espécie. Já nos podemos examinar a nós próprios e aos embriões para detectar doenças genéticas, por exemplo. Poderíamos escolher embriões para genes mais desejáveis, tal como fazemos com a agricultura.
A edição directa do ADN de um embrião humano foi provada como sendo possível. Podemos estar a caminhar para um futuro em que apenas mau progenitor não daria aos seus filhos os melhores genes possíveis.
Isto pode parecer ficção científica um pouco sombria, mas já está a acontecer. E as partes mais interessantes da evolução não são as origens da vida, os dinossauros, ou ou os Neandertais, mas o que está a acontecer neste momento — o nosso presente, e o nosso futuro.
Alice Carqueja
9 Março, 2022