CIÊNCIA/ASTRONOMIA

Impressão de artista da estrela hiper-giante vermelha VY Canis Majoris. Localizada a cerca de 3.009 anos-luz da Terra, VY Canis Majoris é possivelmente a estrela mais massiva da Via Láctea.
Crédito: NASA/ESA/Hubble/R. Humphreys, Universidade de Minnesota / J. Olmsted, STScI
Uma equipa de astrónomos liderada pela Universidade do Arizona criou uma imagem tridimensional e detalhada de uma estrela hiper-gigante moribunda. A equipa, liderada pelos investigadores Ambesh Singh e Lucy Ziurys da Universidade do Arizona, traçou a distribuição, direcções e velocidades de uma variedade de moléculas em torno de uma estrela hiper-gigante vermelha conhecida como VY Canis Majoris.
As suas descobertas, que apresentaram a 13 de Junho no 240.ª Encontro da Sociedade Astronómica Americana em Pasadena, Califórnia, oferecem perspectivas a uma escala sem precedentes sobre os processos que acompanham a morta de estrelas gigantes. O trabalho foi feito com os colaboradores Robert Humphreys da Universidade de Minnesota e Anita Richards da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
As estrelas super-gigantes extremas, conhecidas também como hiper-gigantes, são muito raras, sendo que apenas algumas conhecidas existem na Via Láctea. Exemplos incluem Betelgeuse, a segunda estrela mais brilhante da constelação de Orionte, e NML Cygni, também conhecida como V1489 Cygni, na direção da constelação de Cisne.
Ao contrário das estrelas com massas mais baixas – que são mais propensas a inchar quando entram na fase de gigante vermelha, mas geralmente mantêm uma forma esférica – as hiper-gigantes tendem a passar por substanciais eventos de perda de massa que formam estruturas complexas e altamente irregulares compostas por arcos, aglomerados e nós.
Localizada a cerca de 3009 anos-luz da Terra, VY Canis Majoris – ou VY CMa, para abreviar – é uma estrela variável pulsante na direcção da constelação de Cão Maior.
Abrangendo entre 10.000 e 15.000 unidades astronómicas (1 unidade astronómica, ou UA, é a distância média entre a Terra e o Sol, cerca de 150 milhões de quilómetros), VY CMa é possivelmente a estrela mais massiva da Via Láctea, de acordo com Ziurys.
“Pense nela como Betelgeuse em esteróides,” disse Ziurys, Professor Regente no Departamento de Química e Bioquímica da Universidade do Arizona e do Observatório Steward. “É muito maior, muito mais massiva e sofre erupções gigantescas mais ou menos a cada 200 anos.”
A equipa optou por estudar VY CMa porque é um dos melhores exemplos destes tipos de estrelas.
“Estamos particularmente interessados no que as estrelas hiper-gigantes fazem no final das suas vidas,” disse Singh, no seu 4.º ano de doutoramento e membro do laboratório de Ziurys. “As pessoas costumavam pensar que estas estrelas massivas simplesmente evoluíam para super-novas, mas já não temos a certeza.”
“Se assim fosse, deveríamos ver muitas mais explosões de super-nova pelo céu,” acrescentou Ziurys. “Pensamos agora que podem colapsar calmamente em buracos negros, mas não sabemos quais acabam assim as suas vidas, ou porque é que isso acontece e como.”
Imagens anteriores de VY CMa com o Telescópio Espacial Hubble da NASA e espectroscopia mostraram a presença de arcos distintos e outros aglomerados e nós, muitos estendendo-se milhares de UA a partir da estrela central.
Para descobrir mais detalhes dos processos pelos quais as estrelas hiper-gigantes terminam as suas vidas, a equipa começou a traçar certas moléculas em torno da hiper-gigante e a mapeá-las para imagens pré-existentes da poeira, obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble.
“Ninguém tem sido capaz de obter uma imagem completa desta estrela,” disse Ziurys, explicando que a sua equipa se propôs a compreender os mecanismos através dos quais a massa da estrela é libertada, que parecem ser diferentes dos das estrelas mais pequenas que entram na sua fase gigante vermelha no final das suas vidas.
“Não se vê esta agradável e simétrica perda de massa, mas sim células de convecção que ‘sopram’ através da fotosfera da estrela como balas gigantes e ejectam massa em diferentes direcções,” disse Ziurys. “Estas são análogas aos arcos coronais vistos no Sol, mas mil milhões de vezes maiores.”
A equipa usou o ALMA (Atacama Large Millimeter Array) no Chile para rastrear uma variedade de moléculas em material ejectado a partir da superfície estelar. Enquanto algumas observações ainda estão em curso, foram obtidos mapas preliminares do óxido de enxofre, dióxido de enxofre, óxido de silício, óxido de fósforo e cloreto de sódio. A partir destes dados, o grupo construiu uma imagem da estrutura do fluxo global molecular de VY CMa em escalas que englobavam todo o material ejectado a partir da estrela.
“As moléculas traçam os arcos no invólucro, o que nos diz que as moléculas e a poeira estão bem misturadas,” disse Singh. “O que é bom nas emissões de moléculas em comprimentos de onda de rádio é que nos fornecem informação da velocidade, em oposição à emissão de poeira, que é estática.”
Ao mover as 48 antenas do ALMA para diferentes configurações, os investigadores conseguiram obter informações sobre as direcções e velocidades das moléculas e mapeá-las através das diferentes regiões do invólucro da hiper-gigante com considerável detalhe, correlacionando-as mesmo com diferentes eventos de ejecção de massa ao longo do tempo.
O processamento dos dados exigiu algum “levantamento pesado” em termos de poder computacional, disse Singh.
“Até agora, já processámos quase um terabyte do ALMA e ainda recebemos dados que temos de analisar para obter a melhor resolução possível,” disse. “Só a calibração e limpeza dos dados requer até 20.000 iterações, o que leva um dia ou dois para cada molécula.”
“Com estas observações, podemos agora colocá-las em mapas no céu,” disse Ziurys. “Até agora, apenas pequenas porções desta enorme estrutura tinham sido estudadas, mas não se consegue compreender a perda de massa e como estas grandes estrelas morrem, a menos que se olhe para toda a região. É por isso que queríamos criar uma imagem completa.”
Com o financiamento da NSF (National Science Foundation), a equipa planeia publicar as suas conclusões numa série de artigos científicos.
Astronomia On-line
1 de Julho de 2022