OPINIÃO
Vi o primeiro episódio e decidi não continuar. Violência extrema, sangue e muito personagem a morrer atiraram-me para fora do sofá, ao contrário dos 111 milhões de utilizadores que já assistiram a esta série, tornando-se assim no programa mais visto na história da plataforma de streaming Netflix.
Falo de Squid Game, o fenómeno sul-coreano que emergiu nas últimas semanas nas nossas televisões. E que fenómeno!
Podemos fazer o exercício de desmontá-lo sob o ponto de vista pedagógico e equacionar que problemas comportamentais pode trazer aos nossos filhos uma série deste calibre. Sou pai com filhos na idade das descobertas tecnológicas e a sua destreza digital é assustadora de tal forma que não há controlo parental que resista. E estas transferências da ficção para a realidade assustam-me. E muito! Há inclusivamente, noutros pontos do globo, educadores que já alertaram os pais para o crescimento atroz de brincadeiras que copiam o que as crianças veem na televisão.
A cópia para o mundo real é de fácil concretização, pois são jogatanas tradicionais, mas que se inflamam pela violência, pela advertência e pelo castigo. E, neste caso, a palavra castigo é muito mais sinónimo de condenação do que de repreensão, levando o sangue a espirrar dentro do ecrã. Na verdade, a violência televisiva, chamemos-lhe assim, sempre existiu. O problema talvez seja a disponibilidade e a facilidade de se consumir horas e horas de violência sem supervisão, sem controlo, sem rede! Como se os nossos filhos fossem trapezistas a baloiçar por cima de um mar de violência sem qualquer tipo de segurança que os impeça de cair.
A outra forma de desmontar Squid Game, ou qualquer outro fenómeno televisivo do género, é perceber o que estes movimentos de massas podem trazer às marcas. Veja-se por exemplo a Vans, que aumentou as vendas dos ténis brancos que calçam os actores em cerca de 7800%. Leram bem: 7800%!
Segundo a Forbes, no Reino Unido o estudo da língua coreana aumentou 76% no Duolingo, plataforma online de ensino de línguas. Mas isto não fica por aqui. Não!
Os seguidores da actriz Jung Ho-yeon passaram de cerca de 400 mil para 18 milhões, tanto que a actriz é a nova embaixadora da marca Louis Vuitton!
E preparem-se que o Halloween estando à porta… as fatiotas de cor verde ou magenta vão certamente ser o mote da época.
Designer e director do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia
Diário de Notícias
Carlos Rosa
20 Outubro 2021 — 00:00